Robson Morelli

Saldo do Brasil na Europa é positivo, com destaque para Dorival e Endrick

Seleção empata com Espanha e ganha da Inglaterra na estreia do treinador

O Brasil tirou algumas boas lições dos amistosos na Europa contra Inglaterra e Espanha, uma vitória (1 a 0) e um empate (3 a 3), respectivamente. Foi a estreia de Dorival Júnior no comando do time nacional, em substituição a Fernando Diniz. O novo treinador, que deve levar a seleção para a Copa do Mundo de 2026, fez bom trabalho. Não inventou, manteve a formação nos dois duelos, usou os atletas em suas respectivas posições, pelo menos a maioria, e obteve dois excelentes resultados, que, como ele mesmo disse, resgatou a confiança do grupo. Digo mais: resgatou um pouco do respeito construído ao longo da história do time e perdido nos últimos anos.

Lição 1 – Jogos contra rivais de peso valem muito mais

A primeira lição é que a seleção brasileira precisa jogar contra rivais do seu tamanho e tradição. Espero que a CBF enterre os amistosos sem sentido, diante de times que precisam ser apresentados ao torcedor, e abra caminho ou os cofres para jogar contra adversários mais pesados, como foram os ingleses e os espanhóis. Mesmo em jogos sem valor nenhum, o que se viu foram dois duelos pegados e bastante disputados dos dois lados. Jogador gosta de atuar em partidas assim, com esse peso, espírito e tradição.

Lição 2 – Os melhores do Brasil estão na Europa

Apesar do clamor popular pela convocação de jogadores que atuam no Brasil, os melhores e mais bem preparados atletas brasileiros estão na Europa. Dorival, que nunca comandou nenhuma seleção em sua carreira, percebeu isso nos treinos no campo do Arsenal, em Londres, na primeira parada da delegação. Ele formou o time com os jogadores que estão acostumados a atuar nas ligas mais fortes do mundo.

Brasil usa preto para protestar contra o racismo na Espanha / CBF

Lição 3 – Futebol sem mimimi, frescura ou firula

O Brasil jogou sem mimimi, frescura ou firula. Não teve jogador passando o pé em cima da bola nem fazendo jogada que não fosse com o objetivo de chegar ao gol adversário. Foi uma seleção concentrada e reta. Isso contrasta com os jogos do time na Copa do Mundo e em partidas mais recentes. O que se viu em Wembley e no Santiago Bernabéu, dois templos do futebol mundial, foi um Brasil sério, firme, solidário e honesto. O torcedor entendeu dessa maneira. O time de Dorival está longe de encantar e ainda é muito, mas muito cedo para qualquer avaliação mais conclusiva. Mas deixa uma boa impressão, melhor do que a deixada nas Eliminatórias, por exemplo.

Lição 4 – Dorival olha para o meio de campo

É no meio de campo que se ganha jogos. Já disseram isso, mas nem todos os treinadores acreditam ou apostam nessa certeza. Dorival conseguiu deixar esse setor do Brasil mais arranjado, como volantes modernos e que também sabem sair para o jogo e ofereceu a criação para Paquetá, que foi valente e maldoso, diga-se, com muitas faltas nas duas partidas. Poderia ter sido expulso em ambas. Mas o treinador erra ao apostar em Rodrygo como centroavante e talvez em Danilo como lateral. O bom jogador do Real Madrid não é um 9. Nemo zagueiro é mais lateral. O que não quer dizer que eles não tiveram boas atuações. Porque tiveram, com gol, inclusive. Gostaria de ver Danilo na zaga pelo lado esquerdo.

Lição 5 – Predestinado, como Endrick, tem de jogar

Dorival também entendeu a fase de Endrick e sua disposição de ser o melhor de todos num curto período de tempo. E não se curvou aos outros jogadores do elenco. Mandou o moleque para as duas partidas no segundo tempo e gostou do que ele fez. Endrick marco dois gols, um contra a Inglaterra e outro diante da Espanha. Volta maior do que foi. Ele foi aplaudido nas duas apresentações, fez o seu marketing pessoal e ganhou o reconhecimento dos europeus. Mesmo antes de vestir a camisa do Real Madrid, que o comprou do Palmeiras, o atacante já marcou um gol no Santiago Bernabéu. Ele foi “tietado” pelo presidente do clube, Florentino Pérez. “Estamos te esperando”, disse o dirigente para o garoto de 17 anos. Não é pouco.

Dorival fica satisfeito com empate por 3 a 3 com a Espanha em Madri / CBF

Lição 6 – Sentimento de dever cumprido

Diferentemente das outras partidas do Brasil antes da queda de Fernando Diniz, quando o elenco sempre voltava para casa desanimado e sem o reconhecimento do torcedor, desta vez o grupo deixa a Data Fifa de cabeça erguida. Antes, ou perdia ou jogava mal. Desta vez, diante de rivais gigantescos, os atletas desmontam a concentração da seleção em Madri com o sentimento de dever cumprido, de modo a despertar em todos eles o desejo de voltar para a Copa América dos Estados Unidos no meio do ano, quando Dorival terá mais tempo para trabalhar com todos eles. Venceram e empataram, mas, acima de tudo, jogaram com vontade. O time foi melhor diante da Inglaterra.

Lição 7 – Há vida sem Neymar

Para quem duvidava de que a seleção brasileira pudesse ser competitiva sem seu principal jogador, Neymar, a lição é grande. O Brasil, por ora, não tem brilho e precisa de muito mais para jogar melhor, mas tem um time. Mostrou organização e pegada. Correu até o fim nas duas apresentações e buscou um empate diante da Espanha que parecia impossível depois de estar perdendo por 2 a 0. Ainda é cedo para dizer que o Brasil não precisa de Neymar, nem acho isso, mas Dorival tem um time que pode melhorar com a entrada de alguns outros jogadores, até no segundo tempo, se for o caso, Imagine o que Neymar não aprontaria para cima dos rivais entrando no segundo tempo, cheio de apetite. É tudo muito cedo. Mas o que o torcedor espera, faz tempo, é ter uma seleção sem frescura, competitiva e com jogadores entusiasmados em vestir a camisa.

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