A contratação de Carlo Ancelotti como técnico da seleção brasileira é um marco histórico: pela primeira vez nas últimas décadas, um estrangeiro comandará a equipe pentacampeã do mundo. Mas é também um movimento que diz mais sobre a crise institucional do futebol brasileiro do que sobre uma busca técnica por excelência.
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A chegada do treinador italiano, embora celebrada por seu currículo, não representa, por si só, a redenção dos fracassos recentes — nem no campo esportivo nem no simbólico. Mas não deixa de ser uma esperança, uma tentativa de resgate. O italiano assume não só a responsabilidade de classificar o Brasil para a Copa de 2026 e disputar o hexa, como também o desafio de reconstruir uma identidade arranhada, dentro e fora de campo.

Ancelotti é um dos três melhores técnicos do mundo na atualidade, ostentando um currículo impecável. Maior campeão europeu, único técnico ganhador das cinco principais ligas do continente, é um nome que carrega respeito internacional, equilíbrio e uma rara capacidade de gestão de vestiário. O problema é que ele troca sua zona de conforto para mergulhar no caos.
Futebol brasileiro é terreno pantanoso
A seleção que caiu no seu colo, outrora símbolo de orgulho nacional, hoje é espelho de uma CBF mergulhada em escândalos, denúncias e desconfiança. É impossível dissociar a queda de prestígio da equipe da crise institucional da entidade que a comanda. Seu sucesso dependerá da capacidade da CBF de não sabotar (mais uma vez) um projeto de médio prazo. É simbólico — e irônico — que o Brasil precise buscar fora de suas fronteiras uma figura que represente seriedade, planejamento e competência.
Nada do que já fez no mundo da bola será suficiente se Ancelotti não compreender, com rapidez, onde está pisando. O futebol brasileiro, dentro e fora de campo, é um terreno pantanoso, campo minado para pessoas que trabalham com seriedade. A seleção vive uma desconexão com a torcida, alimentada por anos de decisões erráticas, eliminações traumáticas e gestões desastrosas. E a CBF, entidade que deveria conduzir um projeto nacional de futebol, está mergulhada em denúncias, manobras políticas e instabilidade institucional.
Jogo político da CBF
Para além do desafio tático, Ancelotti já estreia como peça central de um jogo político. Seu nome está sendo usado como trunfo por Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, que enfrenta acusações graves — entre elas, a falsificação de assinaturas em documentos que sustentaram sua permanência no poder. A pressa com que o anúncio do acerto com Ancelotti foi feito, antes mesmo da sua saída oficial do Real Madrid, revela uma estratégia clara: usar o prestígio do treinador como escudo contra os processos que ameaçam seu mandato.
Ancelotti é a bala de prata de Ednaldo. O técnico italiano pode até não ter escolhido estar nesse jogo, mas foi colocado nele. E isso terá consequências.

No campo, o cenário não é menos desafiador. A seleção é hoje um amontoado de jogadores convocados sem coerência, sem critério técnico e sem continuidade. Falta padrão, falta liderança, falta espírito coletivo. A torcida, que sempre foi parte fundamental da mística da camisa amarela, hoje olha com distanciamento e desconfiança. O futebol brasileiro perdeu conexão com o povo.
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Ancelotti precisará ser rápido para formar um time competitivo, confiável, que volte a impor respeito aos adversários e orgulho à torcida. Mas terá pouco tempo e muita pressão. Seus primeiros testes — contra Equador e Paraguai pelas Eliminatórias — já virão com o peso da cobrança por resultados imediatos. E qualquer tropeço poderá ser amplificado por um ambiente político que não hesita em sacrificar nomes para manter interesses.
O sucesso do seu trabalho dependerá de fatores que vão além do gramado. O novo técnico precisará de respaldo, de estabilidade e de autonomia — três condições que hoje a CBF não parece disposta nem apta a oferecer.