É insustentável. Clubes atolados em dívidas seguem contratando jogadores por cifras milionárias, demitindo treinadores a cada dois meses e pagando multas rescisórias altíssimas como se o dinheiro brotasse do chão. A irresponsabilidade financeira virou regra — e pior: é estimulada por um sistema conivente, por legislações frouxas e por estruturas internas que fazem vista grossa à gestão temerária.
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O futebol brasileiro vive uma ilusão contábil: dirigentes gastam mais do que arrecadam, contratam acima da capacidade de pagamento, atrasam salários, acumulam passivos fiscais e depois negociam “acordos” eternos com a União, parcelando dívidas impagáveis em nome de “recuperação”. É uma máquina de empurrar problemas com a barriga, movida por vaidade, imediatismo e impunidade.
O problema é que nada muda porque os clubes não são responsabilizados de verdade. São entidades privadas, com autonomia administrativa e pouca transparência. Seus dirigentes, mesmo quando gerem o clube com total imprudência, não respondem com o próprio patrimônio. Ficam quatro anos no poder, aproveitam as benesses do cargo, deixam dívidas gigantescas e saem ilesos — muitas vezes direto para cargos em federações, confederações ou na política.
Torcedor é o lado fraco
Enquanto isso, a bomba estoura sempre do mesmo lado: no torcedor. É ele quem vê o clube naufragar, o time virar chacota, a folha salarial explodir e as promessas nunca se cumprirem. Normalmente esse roteiro tem como capítulo final o rebaixamento, que é a maior condenação que um torcedor pode sofrer.
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Não sem tempo, eis que alguns dirigentes começaram a debater o assunto e já estudam propostas de reorganização e criação de regras para regulamentar o mercado. O que seria desnecessário se as leis que já existem fossem cumpridas. Sim, há previsão legal para limitar a atuação de clubes em crise. Existem regras, exigências fiscais e compromissos de responsabilidade — mas são constantemente burlados, flexibilizados, reinterpretados por brechas jurídicas e janelas de exceção. Falta coragem política para aplicar as punições e sobram conchavos para manter tudo como está.
O futebol precisa de uma ruptura com esse modelo podre. Ou seja, cláusulas de barreira duras e inegociáveis: clube que deve acima de um certo valor não pode contratar jogador de valor x; quem está com salários atrasados não pode registrar reforços; quem demitir técnico fora do período permitido paga com limite no orçamento do ano seguinte.
Mais do que isso, é hora de discutir com seriedade a responsabilidade pessoal de quem gere clubes como se fossem brinquedos milionários. Dirigente que estoura o caixa e multiplica a dívida precisa responder civilmente. É assim no mundo corporativo — por que não seria no futebol?
SAF pode ser a solução
Neste cenário, a criação das SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol) surge como uma possível tábua de salvação. Ao transformar o clube em empresa, ela obriga a prestação de contas, institui governança e separa, ao menos em tese, a paixão da gestão. Mesmo isso precisa ser fiscalizado de perto. Porque sem regulação firme, até a SAF pode virar cortina de fumaça para novos abusos.
Chegou a hora da depuração financeira do futebol brasileiro. Quem deve, paga. Quem administra mal, responde. Sem isso, continuaremos repetindo o ciclo da irresponsabilidade — e chamando de futebol o que, na prática, é só má gestão crônica com verniz de espetáculo.