Por Paulo Vinícius Coelho, o PVC
Arrigo Sacchi atendeu ao telefone com voz mansa, como sempre foi. Um pouco mais desta vez porque a saúde já não responde como nos tempos em que se sentou para jantar com Silvio Berlusconi, recém-empossado dono do Milan, e disse “sim” ao convite para ser o treinador do time mais poderoso do planeta nas décadas seguintes.
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Sacchi atendeu a este jornalista com a gentileza de todas as suas entrevistas. Revolucionário, terminou com o preconceito italiano pela marcação por zona. O que o ajudou foram jogadores com cultura de não marcar homem a homem. Carlo Ancelotti era um deles.

Na Roma, campeã italiana de 1983 ao lado de Paulo Roberto Falcão, Ancelotti ouvia instruções do treinador sueco, Nils Liedholm. Queria a bola como referência, não o jogador adversário. Marcação zonal, não individual.
‘Quero sua cabeça’
Sabendo disso, Arrigo Sacchi começou sua revolução no Milan de Berlusconi por uma sugestão: contratar Carlo Ancelotti. O magnata apresentou um relatório técnico e afirmou: “Temos informações de que Ancelotti tem problemas sérios nas pernas. Sacchi respondeu: “Não o quero por causa das pernas. Quero por sua cabeça.”
Em trinta anos como técnico, Ancelotti prova a verdade das palavras de Sacchi contadas a mim ao telefone. Ancelotti não é um revolucionário, como Pep Guardiola, nem tem a marca registrada do jogo defensivo, como Mourinho. Qual é o seu segredo, então? Sacchi responde: “Tem a intuição que outros não têm.”
Sua chegada ao Brasil apresenta um pouco deste perfil. Não determinou, não mandou e não foi impositivo. Suas primeiras palavras foram: “vou aprender português rapidamente.” Depois, esquivou-se das perguntas em italiano. Preferiu o espanhol, por ser o idioma que domina mais próximo do português.
Ele vai se adaptar ao Brasil
Não é por outra razão sua capacidade de ser o único campeão em cinco países diferentes, Itália, Inglaterra, França, Alemanha e Espanha. Adapta-se. Deste ponto de vista, a chegada de Ancelotti foi encantadora. Fez esquecer, por momentos, a política que atropelou o noticiário da seleção nos últimos dois meses, com duas eleições e dois presidentes diferentes da CBF em apenas 61 dias.

Sua apresentação deu respiro, fez lembrar por que o Brasil tem a seleção cinco vezes campeã mundial. “Dirigi recentemente jogadores brasileiros muito talentosos, como Vinícius e Rodrygo”, respondeu, ao ser questionado se o velho país do futebol já não produz talentos como no passado.
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Ele afirmou, categoricamente, que, após cinquenta anos de futebol, não sabe definir qual o sistema capaz de vencer sempre. Não há. Por isso foi chamado de retranqueiro no início de carreira e recordista de ataque na Premier League, com o Chelsea de 2010. Por isso também assumiu o Bayern de Guardiola e foi campeão sem o treinador revolucionário. Ancelotti é um camaleão. Vai se adaptar ao Brasil. A pergunta é se o Brasil vai se adaptar à sua fleuma cabeça. À sua tranquilidade.