De acordo com a imprensa espanhola, Carlo Ancelotti, o técnico italiano multicampeão no Real Madrid, será anunciado no comando da seleção brasileira na próxima semana. Em qualquer outro país, essa notícia seria recebida com entusiasmo unânime. No Brasil, ela chega com direito a muitas ressalvas. Não pela escolha em si — Ancelotti é indiscutivelmente qualificado —, mas pelo momento em que ela acontece: um dos mais sombrios da história recente da Confederação Brasileira de Futebol.

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A contratação do treinador do Real Madrid volta à tona justamente quando a CBF está mais uma vez no centro de um escândalo de bastidores. Agora, a acusação envolve a suposta falsificação da assinatura do Coronel Nunes em um documento que viabilizou a eleição de Ednaldo Rodrigues. Um detalhe que, se confirmado, não é apenas um deslize burocrático — é uma fraude institucional. Grave, vergonhosa e reveladora.

Carlo Ancelotti e os brasileiros do Real Madrid: treinador italiano, segundo o jornal Marca, vai treinar o Brasil / Real Madrid

A pergunta que salta aos olhos é: como Ancelotti, ou qualquer outro treinador, pode trabalhar nesse ambiente? Como confiar em promessas e acordos feitos por uma entidade que coleciona denúncias, disputas judiciais e interferências políticas?

CBF sem credibilidade

Ednaldo chegou ao poder pela porta dos fundos, mas aproveitou a oportunidade para parecer diferente dos cartolas que o antecederam. Para afastar a suspeita de ser mero ventríloquo dos dirigentes que o colocaram no trono, chegou a anunciar promessas de uma nova era de diálogo e seriedade.

No entanto, o que se viu foi mais do mesmo: decisões obscuras, bastidores opacos e agora mais uma vez suspeitas de ilegalidade. A imagem da seleção, já manchada por anos de gestões desastrosas e distanciamento da torcida, afunda ainda mais na lama das más práticas. E o pior: parece não haver qualquer esforço genuíno de limpeza.

O caso da assinatura falsa não é um ponto fora da curva — é só mais um capítulo em uma novela que já teve de tudo: cartolas afastados por corrupção, presidentes presos, intervenções judiciais, manipulações eleitorais. O futebol brasileiro, que deveria ser orgulho nacional, virou objeto de vergonha e escárnio. E a CBF, em vez de símbolo de excelência, agora é sinônimo de crise. Vale ressaltar que nada ainda foi provado contra Ednaldo.

Ambiente tóxico na seleção?

Ancelotti é o homem certo. Mas chegou na hora errada. Nem tanto pela seleção em si, que bem ou mal vai estar na Copa de 2026, mas pelo sistema que a sustenta — ou melhor, que a sabota. O técnico pode organizar taticamente, pode treinar com excelência, pode até conquistar resultados, mas fora das quatro linhas, estará cercado por um ambiente tóxico, onde ética e profissionalismo são exceções.

Ancelotti teria acertado com o presidente Florentino Pérez para deixar o Real Madrid após o clássico com o Barça / R. Madrid

Dito isso, o treinador italiano já devia saber onde estava pisando ao estudar a proposta. Ao aceitar comandar a seleção, mesmo ciente do caos institucional, ele assumiu também o compromisso de blindar o campo da política. A missão é ingrata, mas possível — e se alguém tem bagagem para isso, é ele.

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Ancelotti traz a experiência de quem já venceu a Champions League quatro vezes como treinador, lidando com vestiários estrelados, imprensa implacável e torcidas exigentes. Sua habilidade em lidar com egos, formar grupos coesos e extrair o máximo de seus jogadores pode ser o maior trunfo do Brasil até a próxima Copa. Mais do que um estrategista moderno, ele é um gestor de grupo — algo que a seleção carece há tempos.

Dá tempo para a Copa?

Taticamente, pode-se esperar uma equipe mais equilibrada, menos dependente do talento individual e mais comprometida coletivamente. Ancelotti costuma priorizar sistemas flexíveis, que se adaptam ao elenco — algo essencial diante das constantes mudanças em convocações. Em menos de um ano, não há tempo para revoluções, mas há espaço para ajustes importantes: compactação defensiva, jogo apoiado, saída de bola qualificada e transições mais rápidas.

O grande desafio será alinhar tudo isso em pouco tempo e sob enorme pressão. Mas, se conseguir isolar seu trabalho do ambiente tóxico da CBF e impor seu estilo sereno e pragmático, Ancelotti pode não só recolocar o Brasil no trilho do bom caminho — pode também nos lembrar que, apesar de tudo, esse aqui ainda é o País do Futebol.

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