O domingo marca um ponto de inflexão no País do Futebol. O futebol brasileiro amanhece neste 25 de maio de frente para o espelho. E, mais uma vez, a pergunta que retorna da própria imagem é incômoda: o futuro chegou — mas ele é mesmo novo?
Seja um parceiro comercial do The Football
Neste domingo, duas cenas se sobrepõem, como se o destino tivesse decidido dar um sinal claro. De um lado, a aclamação de Samir Xaud, um dirigente desconhecido fora dos bastidores da cartolagem, como novo presidente da CBF. Do outro, o início de uma era que quebra uma tradição secular: Carlo Ancelotti, italiano, forasteiro, assume a seleção brasileira. Sua convocação será na segunda-feira.

Dois movimentos. Duas estreias. E uma mesma dúvida pairando no ar. O que esperar dessas mudanças diante da necessidade, extrema e urgente, de reinventar o futebol num país que há mais de 20 anos deixou de ser protagonista no mundo da bola?
Não sabemos o que esperar
No campo, a aposta é no novo — ao menos no discurso. Ancelotti não precisa provar que entende de futebol. Seu currículo grita. Mas nunca viveu o ambiente, as pressões e as particularidades de comandar não apenas uma seleção, mas o maior símbolo cultural de um país inteiro. Nunca estivemos sob o comando de um técnico estrangeiro. É, no mínimo, uma experiência inédita — e não sabemos o que ela trará.

Fora do campo, a história parece se repetir. Samir Xaud chega à presidência da CBF não pela força de um projeto, de um debate ou de uma disputa democrática. Chega por aclamação — o velho eufemismo do futebol brasileiro para a perpetuação de um sistema que resiste a qualquer ideia de modernização, de ética, de transparência.
‘Presidente reborn’
Não por acaso, ele só virou presidente da Federação de Roraima porque herdou o poder local do pai, Zeca Xaud, que domina o pedaço há mais de 40 anos, como se a entidade fosse seu quintal. Samir é, por enquanto, apenas um projeto de presidente, uma espécie de ‘presidente reborn’ produzido em laboratório.
O contraste não poderia ser mais cruel. Busca-se um sopro de renovação na beira do campo enquanto, no centro do poder, mantém-se a arquitetura envelhecida, protegida e opaca. A pergunta se impõe: é possível construir um futuro diferente jogando com as mesmas peças, no mesmo tabuleiro, com as mesmas regras de sempre?
SIGA THE FOOTBALL
Facebook
Instagram
Linkedin
Threads
Tik Tok
O futebol brasileiro carrega uma contradição que beira o insustentável. Somos o país do futebol, mas também o país onde o futebol se sabota. Trocamos técnicos como quem troca de roupa, mas preservamos dirigentes como quem protege relíquias de um museu. A seleção muda. A CBF, não.
O futuro começa hoje. Pelo menos, no calendário. Mas o futuro, aqui, nunca é garantia de mudança. É, na maioria das vezes, apenas a repetição disfarçada de novidade. Ainda há tempo para romper esse ciclo? A resposta, como quase tudo no futebol brasileiro, segue no campo das dúvidas.