A crise institucional que assola a CBF após a decisão judicial que afastou Ednaldo Rodrigues do cargo de presidente já mobiliza os subterrâneos do poder no futebol brasileiro. Movimentos de bastidor se aceleram para definir o próximo ocupante da cadeira mais cobiçada da bola. Mas nada, absolutamente nada, soa tão ofensivo quanto o manifesto lançado por 19 federações estaduais nesta quinta-feira.

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O documento, que fala em “renovação”, “descentralização”, “transparência” e “estabilidade institucional”, é um exercício explícito de oportunismo. E seria apenas isso — não fosse, acima de tudo, uma imensa hipocrisia.

Sede da CBF, na Barra da Tijuca, Rio: presidente Ednaldo Rodrigues e afastado pela Justiça do Rio de Janeiro / CBF

Essas mesmas 19 federações que agora posam de vítimas do sistema foram, há pouquíssimos meses, entusiastas da reeleição de Ednaldo Rodrigues. Foram cúmplices e patrocinadoras da continuidade de um modelo de poder viciado, centralizador e opaco. Não houve resistência, crítica ou ponderação: o apoio foi unânime entre as 27 federações estaduais, que se aliaram aos clubes das Séries A e B para garantir a permanência do presidente que hoje se tornou alvo da Justiça.

Hipocrisia

Mais que omissas, essas federações foram coniventes. Ignoraram propostas externas — como as articuladas por Ronaldo Fenômeno, que não teve sequer a chance de ser ouvido formalmente — porque já estavam fechadas com o plano de poder vigente. Um plano que, por óbvio, previa inclusive o aviltante reajuste de seus próprios salários, saltando de R$ 50 mil para R$ 250 mil mensais. Um escândalo.

Agora, em nome de uma “urgência estrutural”, essas mesmas federações vêm a público clamar por mudanças. Citam problemas crônicos como o calendário insano, a arbitragem amadora, os gramados ruins e a violência nos estádios. Problemas que atravessam décadas e que elas mesmas sempre ajudaram a preservar. Falam de nossas mazelas como se fossem eles vítimas e não agentes do caos que levou o futebol brasileiro a esse estado de coisas.

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O manifesto é um tapa na cara de quem acompanha o futebol com seriedade. Um insulto à inteligência do torcedor, que sofre com a mediocridade gerencial e a estagnação do futebol nacional. As palavras bonitas usadas no texto não disfarçam a intenção real: manter o jogo político sob controle dos mesmos de sempre, apenas com novas máscaras.

CBF é um castelo apodrecido

O manifesto das federações não representa mudança — representa o velho covil tentando pintar as paredes do castelo que ajudaram a apodrecer. É um teatro mal ensaiado, com os mesmos atores de sempre trocando de figurino para fingir que agora são parte da solução.

Ednaldo Rodrigues fez uma reunião com os presidentes das federações um dia antes de ser afastado do cargo / CBF

Mas o leitor do The Football sabe: não há renovação possível enquanto os alicerces permanecerem os mesmos. Esse movimento das 19 federações cheira a uma manobra de autopreservação — uma tentativa cínica de seguir no controle, mesmo que o futebol brasileiro continue afundando.

Um verdadeiro escárnio

Eles não querem mudança. Querem apenas manter seus feudos intocados. E nisso reside o verdadeiro escárnio: usar a crise como pretexto para reciclar o poder, zombando da inteligência de quem acompanha o jogo fora das quatro linhas com olhos abertos. O futebol brasileiro só terá futuro quando esse ciclo vicioso for rompido. E isso não virá pelas mãos de quem sempre trabalhou para manter tudo exatamente como está.

MANIFESTO NA ÍNTEGRA

O futebol brasileiro vive um momento decisivo. É urgente enfrentar desafios estruturais que há anos limitam o potencial do nosso futebol. Precisamos de um calendário equilibrado, arbitragem profissionalizada, gramados de qualidade, segurança nos estádios e competições fortalecidas.

Para que isso aconteça, é fundamental garantir estabilidade institucional à CBF. Precisamos virar a atual página de judicialização e instabilidade que há mais de uma década compromete o bom funcionamento da entidade e o avanço do futebol brasileiro. É também momento de resgatar a autonomia interna da CBF, hoje sufocada por uma estrutura excessivamente centralizada e desconectada das instâncias que compõem o ecossistema do futebol nacional.

Além da estabilidade, o cenário exige uma renovação de ideias, de práticas e de lideranças, bem como a profissionalização definitiva das estruturas de gestão. A CBF precisa ser exemplo de governança, eficiência e transparência — e também precisa voltar a ser a casa de todos que constroem o futebol brasileiro, com um ambiente saudável, inspirador e descentralizado, em que cada um possa contribuir ativamente para a melhoria do esporte que constitui verdadeiro patrimônio nacional.

Unidos com esse propósito, assumimos o compromisso de construir uma candidatura à Presidência e Vice-Presidências da CBF comprometida com um novo ciclo para o futebol brasileiro: mais democrático, mais integrado e mais aberto à participação de todos. Queremos uma CBF forte, querida por dentro, admirada por fora — e novamente amada por todos que fazem do futebol a alma do nosso país.

 

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