O Santos vive um dos momentos mais delicados de sua história. Basta olhar para a tabela do Brasileirão, para o caixa do clube e para o grau de insatisfação da torcida. Após o rebaixamento inédito em 2023, o clube começa 2025 com os mesmos sinais de colapso que o condenaram ao descenso: desempenho frágil, ambiente instável e a repetição de um roteiro que já deu errado. O que mais assusta, no entanto, é a sensação de que o clube ainda não entendeu a gravidade do que está vivendo.

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A política que guia o Santos hoje é a da tentativa e erro — uma estratégia que, por si só, já denuncia a ausência de planejamento. Não há convicção, projeto ou paciência. O clube se comporta como alguém que, em desespero, tenta tirar soluções mágicas da cartola, buscando atalhos para problemas que exigem profundidade, método e desejo de reconstrução.

Alegria dos jogadores no começo do ano com a volta para a Série A deu lugar para uma onda de preocupações / Santos

A mais recente dessas “apostas” atende pelo nome de Cleber Xavier, um nome respeitado no meio do futebol, mas que nunca foi técnico de fato. Foi braço-direito de Tite por duas décadas, mas nunca protagonista. E, agora, assume um clube em frangalhos, sem experiência prática na função, em um ambiente que já mostra ser cruel: bastaram dois jogos sem vitória para parte da torcida pedir sua cabeça. Há sinais de que ele também não vai durar muito tempo…

Devaneio na Vila

A pergunta que fica é: como construir qualquer trabalho sério em um cenário desses? O Santos não apenas erra no nome, mas na ideia: querer que um auxiliar de sucesso se torne um técnico vencedor do dia para a noite é, de novo, buscar o Santo Graal — e cair na frustração quando ele não aparece. Idealizar Tite e contratar Cleber é um equívoco que retrata bem o devaneio que se vive hoje na Vila.

O mesmo se aplica à aposta emocional e midiática em Neymar. Claro, trazer de volta o maior ídolo recente da história do clube mexeu com o torcedor. Por alguns dias, parecia que o passado glorioso estava de volta. Mas Neymar está lesionado, sem previsão de retorno e com um futuro incerto. O projeto de reconstrução do Santos não pode — e não deve — estar baseado em euforia ou em símbolos que não conseguem estar em campo. Neymar não é o mesmo Neymar de outrora. Cleber Xavier não é o Tite sem paletó.

Dupla Neymar e Guilherme foi desfeita pelos técnicos porque os jogadores deixam a desejar no momento / Santos

Sem rumo

Essas decisões, tomadas na base do imediatismo, escancaram uma gestão que dá tiros esmo, sem mira e sem alvo. O Santos parece ter esquecido o que o fez grande: a formação de talentos, a ousadia com responsabilidade, a continuidade de ideias. Hoje, o clube caminha sem direção, flertando com um vexame técnico ainda maior do que o do ano retrasado — e um prejuízo institucional que pode levar décadas para ser revertido.

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Mas ainda há luz no fim do túnel. Se há um clube no Brasil que pode se dar ao luxo de abandonar essas falsas soluções, esse clube é o Santos. Nenhuma equipe revelou tantos craques, mudou o futebol com tanta frequência ou sobreviveu de forma tão digna apoiando-se nos seus próprios talentos. Recomeçar pela base não seria um retrocesso — seria, talvez, a única maneira honesta de voltar ao topo.

Certamente o torcedor aceitaria esse caminho. Ao menos entenderia essa opção. Desde que ela fosse clara, transparente e comprometida com um projeto de médio prazo, que priorize as joias da Vila e resgate os valores que fizeram o Santos gigante. Talvez os títulos não venham imediatamente. Mas virão da forma mais legítima possível: do DNA do clube. Ainda dá tempo de submergir do caos.

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