Futebol profissional não é só sobre dinheiro – é também sobre sentimento, alma, paixão e resiliência, para usar a palavra da moda. No meio de uma rodada do Brasileirão, que teve, mais uma vez, muitas polêmicas por causa do VAR, uma impiedosa goleada do Flamengo sobre o Corinthians, uma surpreendente derrota do Palmeiras para o Bahia e muitas outras emoções dignas de nota, não podemos deixar passar em branco o desabafo de Cássio, logo após o final de Cruzeiro 1 x 0 Vasco.

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Pouca gente se deu conta do choro contido do goleiro ao pé da trave quando a bola parou de rolar no estádio Parque do Sabiá, em Uberlândia-MG. Aos 37 anos, escolado no mundo da bola, o Gigante enxugou as lágrimas com a icônica camisa amarela imortalizada por Raul Plasmann como se fosse um menino em início de carreira, que tivera ali sua primeira atuação milagrosa, dessas que garantem o resultado.

Cássio agradece a Deus por mais uma partida no Cruzeiro: goleiro chora com as cobranças do torcedor ‘doente’ / Cruzeiro

Obviamente que Cássio já saiu de campo várias vezes como herói. Em seu reinado na meta do Corinthians, principalmente, escreveu inúmeros capítulos de glória pessoal. Fez defesas espetaculares. Pegou pênaltis improváveis. Ganhou títulos em São Paulo, no Brasil, na América e no Mundo…

Na mira dos torcedores

Mas a vida de goleiro sempre reserva momentos de amargura, solidão, incerteza e críticas. Quem joga ali, na última linha de defesa, está proibido de falhar sob pena de condenação eterna. E era desse jeito que Cássio vinha trilhando sua ainda curta história com a camisa do Cruzeiro.

Às vezes as pessoas estão preocupadas não em vencer, mas sim em tentar humilhar e desrespeitar as outras. O ser humano está ficando doente.
CÁSSIO

A despeito de todo o seu retrospecto, o goleiro vivia na alça de mira dos torcedores mineiros, sob a suspeita de estar acabado, em fim de carreira. Como o time milionário montado para esta temporada não vem respondendo, Cássio, por seu tamanho e visibilidade, era alvo frequente da fúria dos torcedores. No íntimo, ele mesmo sabia que precisava de uma grande atuação para deixar claro que ele é o Cássio, um dos maiores goleiros da história do Brasil.

Defesas milagrosas

Quis o destino que o jogo fosse contra um certo Vasco. Sim, o mesmo Vasco que entrou na vida de Cássio para consagrá-lo com aquela que foi a defesa mais importante de sua carreira e da história do Corinthians. Como esquecer o lance em que ele se agigantou na frente de Diego Souza, no jogo de volta das quartas de final da Libertadores de 2012, no Pacaembu? O jogo abriu o caminho para a inédita conquista da América pelo Timão e o Mundial do Japão.

Foi então que Cássio se deu conta de que o futebol não é feito só de resultados e de dinheiro. É preciso também coragem para enfrentar as dificuldades e grandeza para dar a volta por cima. Emocionado, saiu de campo aos prantos, abraçados aos companheiros mais próximos, e disposto a fazer um desabafo que merece atenção de todos os que gravitam em torno do futebol.

Nós todos precisamos reconhecer que personagens como Cássio fazem bem ao futebol e não podem ser descartados. Devemos tratá-los com respeito e preservar sua história. Mais do que isso, precisamos ouvi-los!

Cássio tinha mais de 700 jogos pelo Corinthians e muitas conquistas, como Libertadores e Mundial / Agência Corinthians

Cássio precisa ser ouvido

Então, se é assim, prestemos atenção nesse desabafo do goleiro do Cruzeiro – que já poderia estar em casa contando o vil metal, mas que prefere seguir na luta, enfrentando atacantes, desfiando o declínio físico natural da idade e mostrando aos jovens como se faz um herói.

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Fala, Cássio

Glória a Deus por tudo. Deus nos dá forças nos momentos mais difíceis. Agradeço à minha esposa, minha família. A gente é ser humano, a gente erra e acerta. A gente vive um momento em que as pessoas estão mais preocupadas em dar pedradas. Às vezes as pessoas estão preocupadas não em vencer, mas sim em tentar humilhar e desrespeitar as outras. O ser humano está ficando doente. Agradeço ao Cruzeiro, ao Pedrinho, a todo mundo.

Nesses momentos a gente vê quem são os amigos de verdade. As pessoas falam muito em salário. Falam: ‘jogador ganha bem, como é que tem problemas?’ Se fosse assim, das pessoas que são bem-sucedidas, ninguém morreria, ninguém teria doença. A crítica faz parte, mas às vezes passam dos limites. Como falei, às vezes as pessoas querem que algo dê errado para poderem xingar, humilhar e desrespeitar as outras, mais do que torcer para as coisas darem certo. Não é só no futebol, é na vida.

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